Ronaldo Barreto, ex-diretor de escola na Compensa, explica ‘como lidar com preconceitos na fase escolar’

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Manaus-AM I “A melhor pergunta a se fazer é: ‘me conte como foi seu dia na escola?’” Essa é a frase sugerida aos pais pelo educador e diretor de Escola Pública, Ronaldo Barreto, ao falar sobre racismo e bullying na escola. Um problema tão estrutural como o racismo no Brasil deve começar a ser tratado em casa. É o que dizem especialistas.

Em um momento em que graves acontecimentos provocam manifestações contra o racismo no mundo, a discussão de como tratar essa ferida se faz ainda mais urgente. “Primeiramente, tem que se criar consciência de respeito. A partir do momento que eu tenho respeito pelo próximo que eu entendo as individualidades, eu consigo enxergar o outro como ser humano, independente da sua cor de pele, da sua deficiência física, da sua deficiência intelectual, da sua classe social”, afirma Ronaldo Barreto, ex-diretor da Escola Municipal Elvira Borges, localizada no Bairro Compensa.

Ronaldo Barreto, ex-diretor da Escola Municipal Elvira Borges, localizada no Bairro Compensa. Foto: Divulgação

Dentro da realidade escolar, o racismo se dá como bullying, segundo Barreto. “Primeiro passo para lidar é igualar todo mundo. Todos são alunos, independente da sua realidade. Assim, eles começam a criar consciência de que não são melhores que ninguém. Cabe a direção da escola, aos professores, o corpo pedagógico trabalhar isso na mente do aluno”, afirma o educador.

O psicoterapeuta, Geisyng Azevedo concorda e acrescenta que o processo começa em casa. “Os próprios pais tem que começar a educar os filhos no sentido de igualdade. Fazer com que os filhos compreendam que todos nós somos iguais. A criança não começa a despontar esse comportamento racista dentro da escola. Isso ela traz de casa. O comportamento dela na escola vai ser só um reflexo do que ela vive no seio familiar. Se ela presencia adultos tendo comportamento racista é muito natural que ela represente isso na fase escolar, assinala.

Para Geisyng Azevedo, os próprios pais tem que começar a educar os filhos no sentido de igualdade. Foto: Divulgação

De acordo com o profissional, a família é quem coloca valores nessa criança, com relação à igualdade, cultura, sexualidade, religião, cor, classe social. “E a escola vai reforçar. Inclusive chamando os pais pra entender de onde vem esses comportamentos. As escolas têm que pregar igualdade entre as crianças”.

Ronaldo Barreto atuou três anos como diretor de uma escola em um dos bairros considerados mais violentos em Manaus. Ele conta que o racismo, assim como outras agressões verbais e físicas, são praticadas dentro de casa. “Daí, você precisa criar mecanismos de proteção para esse aluno. Durante minha gestão, primeiro conversava com o aluno e com os pais. Se voltasse a se repetir, tomávamos atitudes enérgicas como a suspensão. O regimento da Semed, por exemplo, prevê que o bullying é uma infração e deve ser punida. No entanto, sempre tentávamos nos colocar um no lugar do outro. Eu sempre me coloquei no lugar do agredido e do agressor. Até pra entender o por quê que o agressor toma essa atitude, o que quase sempre é um reflexo da agressão sofrida na rua ou em casa ”, afirma o profissional da educação.

Barreto conta que em reunião de pais pedia, por favor, que tirassem pelo menos cinco minutos do seu tempo para eles. “Uma boa parcela do que acontece na escola é responsabilidade dos pais ou ainda a ausência da responsabilidade. Não é pra perguntar como é que foi a escola. Pode ter caído um terremoto lá e a criança vai dizer que foi tudo bem. A pergunta é ‘me conta como é que foi seu dia na escola?’”. E aí ele vai te explicar”, enfatiza Ronaldo.

O educador lembra de um aluno do Haiti que passou pelo colégio. “Um cara que se destacava pela sua vontade e desempenho. Eu tinha que fazer com que os outros respeitassem ele pelo que ele era e não pela cor da pele dele. Adotávamos uma política de proteção mas sem fazer isso ao extremo. Tínhamos de manter o equilíbrio de modo que ele também aprendesse a se defender; se colocando na posição de respeito, mas, primeiramente, se respeitar e saber se aceitar. Quando a pessoa entende que tem que se amar, o que os outros falam não vai fazer tanta diferença”.

Barreto explica que gerava uma relação de confiança quando o aluno trazia o problema gerado pelo racismo ou os tantos outros preconceitos e obtinha justiça a partir da nossa direção.

“Quando eu evito o bullying, eu consigo evitar a violência. Tudo começa com a violência verbal, e se essa agressão verbal não for paralisada, ela se transforma numa agressão física lá na frente. Essa é uma das chaves para tratar a violência na escola, tratar o bullying no início e não o efeito depois”, assinala Ronaldo Barreto.

Como a criança se sente

Segundo o psicoterapeuta emocional, normalmente, a criança que sofre bullying se sente extremamente impotente perante a situação, às vezes ela não entende o que está acontecendo. “Ela se sente rejeitada, preterida. E isso faz com que ela crie sentimento de inutilidade, sentimento de não ser bem vista, não ser querida. Isso pode gerar, ainda na infância, transtornos de ansiedade, depressão. Quando acontece repetidamente, pode até gerar transtorno de personalidade. Nessa fase, a criança não sabe lidar direito com as emoções, ela ainda está aprendendo”, diz Azevedo.

A criança que sofre bullying pode se tornar um adulto com desequilíbrio emocional. “São adultos que vão ter lacunas na sua personalidade, no seu emocional ou comportamental. Isso vai gerar um sofrimento profundo e pode impedir que ele extraia seu potencial absoluto, o seu melhor. Ele vai ter dificuldade de reconhecer seu valor na vida adulta”, explica o psicoterapeuta.

O racismo é um problema estrutural do Brasil. É preciso que aconteça uma coisa gigantesca pra que volte a se olhar para isso no país. “Acho que uma das coisas que é bem interessante de se fazer, ainda no período escolar, é falar da história do racismo, de onde isso vem, de um momento extremamente vergonhoso da humanidade. Para que a criança entenda que isso é feio e não é normal. E pra que, inclusive, se ela vê isso acontecendo que comente com o adulto próximo dela, para que seja tomado alguma providência”, conclui o especialista Geisyng Azevedo.

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